Saturday, March 24, 2007
Fado D'ouro

Fado D'ouro

Tenho em mim o calo e o vagar da dura'idade
Mas pesa o dobro dos anos (meus), a dureza da Saudade.
Tenho cartas d'amor escritas, gastas e velhas,
Perdidas p'la Cidade,em ruas, becos e quelhas.

Tenho na esquina da sala a guitarra portuguesa,
Afilhada de Coimbra, mas com tanta igual nobreza.
Por ter honra, sentimento, dor de mágoa abençoada
E choro como um homem chora quando a alma lh'é arrancada

Quando a primeira guitarra invicta chorou
Inesperado Tesouro
A lágrima que, enfim, tão nobre brotou
Foi lágrima D'ouro

Tenho a capa morta, mais negra que toda'a tristeza
Já perdi os ideais, Já não lhes sei da beleza
Das noites na Cordoaria sobra, eterna, a memória
Capas negras, orgulhosas, ante a vertigem da glória

E os tolos que desconfiam da evidência da Saudade
Perguntem a águas e pedras, ao orfeão dessa Cidade,
Quantas vezes pesou na capa, d'alguém que ao partir
Chorou o rio inteiro, com medo de não conseguir

Quando a primeira guitarra invicta chorou
Inesperado Tesouro
A lágrima que, enfim, tão nobre brotou
Foi lágrima D'ouro

Famosos amores d'estudante, corações ao vento
O olhar da moça, seu beijo, era quem dava o'alento
Deixei lá todo um romance, heroi que acabou morto
Mas não há amor maior, qu'a amor que assola o Porto

Quando a primeira guitarra invicta chorou
Inesperado Tesouro
A lágrima que, enfim, tão nobre brotou
Foi lágrima D'ouro


Esa wrote on 10:18 AM.